sábado, 31 de março de 2007

Senta que lá vai história...

Que coisa mais piegas o meu último post!

Hoje resolvi pôr aqui um texto, fruto de uma pequena pesquisa minha sobre as epopéias de Homero. Boa leitura xD

Aliás, cabe dizer que a leitura desse texto, a meu ver, se fecha num ciclo com o texto do Thiago Leal (A Virtude e suas Nuanças em Homero e Hesíodo), constante do blog dele (Altívago Nefelibata- link ao lado)


Algumas questões sobre a Ilíada e a Odisséia
1.0- Introdução
2.0- Ilíada, Odisséia e Homero
3.0- Impacto da epopéia homérica sobre a civilização grega
3.1- Aspecto educacional de Homero
3.2- Religião e filosofia
4.0- Bibliografia

1.0 – Introdução

A proposta deste texto é analisar a Ilíada e a Odisséia, obras cuja autoria é convencionalmente atribuída ao poeta grego Homero, considerando os poemas sob quatro perspectivas, quais sejam a literária, a filosófica, a cultural e a histórica. O reconhecimento destes pontos de vista não significa que eles serão tratados como realidades estanques, uma vez que a pretensão, ao longo do texto, é tratar das quatro esferas de forma interligada, sem uma separação formal das perspectivas, que são postas em evidência, aqui, apenas como advertência quanto aos aspectos que eu tinha como relevantes ao desenvolver o tema.

Não é meu objetivo fazer um resumo dos eventos narrados nos poemas. Quando fiz referência ao enredo, foi tão somente no intuito de tornar mais claro algum ponto do raciocínio. O procedimento por mim considerado a melhor forma de abordar estas obras foi trazer à discussão alguns problemas decorrentes do estudo do legado de Homero. É justamente a questão da existência histórica deste autor, em conjunto com considerações de ordem literária, que inicia nosso estudo, em 2.0. Em seguida, terá lugar uma série de considerações sobre a importância da epopéia homérica para a formação cultural do povo grego, já inseridas minhas conclusões pessoais (3.0). Por fim, segue o detalhamento da bibliografia, tanto aquela em que me apoiei, quanto aquela que creio ser de interesse para nosso tema (4.0).

A abordagem que fiz não é, de forma alguma, exaustiva. Apoia-se nos principais pontos discutidos pelo grupo sobre as epopéias homéricas e em algumas obras a que tive acesso recentemente, nomeadamente as epopéias propriamente ditas, além dos comentários de Werner Jaeger e da introdução ao volume dos filósofos pré-socráticos, da coleção Os Pensadores, que predominou na primeira discussão sobre o assunto. Obviamente, muitos temas importantes ficaram de fora dessa breve dissertação, alguns justamente em razão do caráter sumário da exposição, outros pelo domínio ainda incipiente sobre o assunto. Algumas questões foram tratadas mais de uma vez, em partes diversas do texto, conforme a necessidade de abordá-las a partir de problemas de diferentes naturezas.

2.0 – Problema histórico de Homero. Aspectos gerais da epopéia

Principiei 1.0 afirmando que Homero é considerado autor dos poemas por convenção. De fato, essa expressão é a que julguei mais apropriada, já que afirmar a existência de um único autor historicamente determinado encerra sérios questionamentos no que se refere à possibilidade de se conhecer a Grécia primitiva por meio dos poemas e à questão do estilo bastante diverso de uma obra em relação à outra. Não pretendo enumerar aqui de forma exaustiva às muitas teorias já formuladas a esse respeito[1], e sim apresentar as fontes de tanto questionamento, ou seja, a problemática em si. Principiarei pela segunda questão, pois esta oferece maiores subsídios para o entendimento da primeira.

É amplamente conhecida a história narrada nos poemas da Ilíada e Odisséia. O primeiro poema é ambientado no cerco dos aqueus a Tróia, mas a guerra é apenas cenário para a ação principal. Esta se concentra em dois problemas principais. O primeiro é a ofensa sofrida por Aquiles, ao ter a posse da cativa Criseida (que ele recebera de seus companheiros gregos em razão de suas virtudes em combate) tomada pelo autoritário líder grego Agamemnon. O segundo grande tema é o combate entre Aquiles e o herói dos troianos, Heitor. Também a Odisséia tem dois planos de ação. Além de nos contar das aventuras de Odisseu, um dos heróis gregos naquela guerra, em retorno ao seu reino de Ítaca, mostra a evolução espiritual de seu filho Telêmaco, em busca pelo pai perdido e por uma solução para a afronta doméstica, representada pelos pretendentes de sua mãe. A autoria de ambos os poemas é atribuída a Homero, embora se saiba da existência de versões diversas do texto, até a edição de Aristarco de Samotrácia (Alexandria, 150 a.C.) que, baseada na forma mais ou menos constante que se tem desde pelo menos 550 a.C., é considerada como definitiva.

O estilo narrativo é muito diferente de um texto para o outro. O poeta da Ilíada não traz considerações mais profundas sobre a formação e natureza de suas personagens. Elas agem de modo a formar uma idealização (de cujo fundamento pretendo tratar adiante) de uma sociedade de guerreiros, os quais sofrem a determinação constante da ação dos deuses em seus destinos. A vida bruta do guerreiro e a busca da virtude cavalheiresca e sua conseqüente honra como imperativo social mostram uma visão de mundo que poderíamos denominar, de certa forma, naturalista.

A celebração dessa virtude cavalheiresca, aliás, é o próprio intuito do poema. Essa virtude ou areté, próxima ao ideal dos cavaleiros medievais, deveria ser constantemente provada mediante os feitos heróicos dos nobres (aristoi, detentores legítimos da virtude), tanto em tempos de guerra quanto de paz, principalmente através das aristéias, combates singulares entre aristocratas. A Ilíada em seu conjunto é a narrativa da grande aristéia da guerra de Tróia, o combate entre Aquiles e Heitor[2]. À questão da areté retornaremos mais adiante.

O fato de concentrar-se nesta aristéia, como o evento mais intenso da guerra, evidencia um dos aspectos da genialidade das epopéias homéricas. Em lugar de proceder com uma exaustiva narração de todos os eventos da guerra, ou mesmo da vida do próprio Aquiles, o poeta concentra-se no drama de maior relevo, mencionando os acontecimentos anteriores e posteriores apenas naquilo em que são relevantes para o entendimento dos eventos que têm lugar no tempo em que se passa a ação[3]. Jaeger afirma, com acerto, que qualquer tentativa de estender a ação até a morte de Aquiles significa ignorar a intenção artística do poema, pois a certeza da morte não é a continuação natural do enredo para o futuro, e sim o motivo maior do engrandecimento do herói no presente.

Por sua vez, a Odisséia encerra uma concepção mais realista de mundo, já que o foco está na descrição de personagens nobres (inclusive em seu aspecto subjetivo), vistas de modo mais humanizado, menos perfeito. As personagens são bastante verossímeis, sendo possível partilhar de seus pensamentos e daquilo que as atormentam, enquanto que é virtualmente impossível imaginar as personagens da Ilíada fora de combate. A Odisséia, tal como está, não poderia ser concebida nos mesmos moldes da narrativa da Ilíada, por estar centrada no cenário doméstico. Esta diferente perspectiva levou muitos autores a julgar ser o autor da Odisséia alguém de convívio mais próximo com o elemento nobre de seu tempo. Se na Ilíada temos a nobreza beirando a perfeição, a Odisséia apresenta o caráter como algo não definitivamente ligado às condições de nascimento, muito embora ainda seja natural que se espere uma conduta cordial dos nobres, condizente com seu ideal de areté. Isto fica claro com o comportamento agressivo dos pretendentes de Penélope, e a incompatibilidade de tal atitude com sua posição social. Diante de tudo isso, é natural que areté caminhe, ainda que não de forma definitiva, para o sentido atual de virtude, que considera seu aspecto moral.

Embora também neste poema esteja presente a influência do elemento sobrenatural / divino nas ações do homem, esta se dá mais sob a forma de inspiração divina do que ação direta de um deus no sentido de modificar o curso dos acontecimentos. Talvez o maior exemplo desta afirmação seja a Telemaquia, parte inicial da Odisséia, em que Telêmaco, filho de Odisseu e príncipe de Ítaca, recebe aconselhamento por parte da deusa Palas Atena acerca do modo como deveria agir na ausência de seu pai. A intervenção da deusa é de suma importância, pois servirá para transformar o jovem então delicado e inexperiente em útil aliado de seu pai no restabelecimento da ordem em sua casa, quando da chegada deste. A evolução do comportamento de Telêmaco é indiscutivelmente direcionada para este clímax.

A análise psicológica não é muito desenvolvida na Ilíada, em favor da supervalorização e enaltecimento de todo tipo de qualidade. A discrepância entre as perspectivas é notável até mesmo na adjetivação usada para as personagens, que serve para destacar a virtude guerreira e propiciar uma aproximação psicológica com a personagem, na Ilíada e Odisséia, respectivamente[4] [5].

Diante disso, é fácil entender o problema histórico (embora não seja fácil resolvê-lo). A sociedade instável de nobres guerreiros apresentada pela Ilíada é compatível com o período das migrações das tribos de aqueus, em seu processo de incursão no território grego (séculos XX a XII a.C.). Tal data é compatível com o apogeu e desaparecimento do sítio de Tróia VI, tido como o período mais esplendoroso do desenvolvimento dessa cidade (1900 a 1240 a.C.), conforme atestaram as escavações conduzidas pelo arqueólogo alemão Heinrich Schliemann[6]. No entanto, a Odisséia não pode ser fruto de tal época, uma vez que a sociedade estável e politicamente bem definida que o poema apresenta simplesmente não poderia existir no período citado. Jaeger situa a criação da Odisséia como anterior a Hesíodo, e a racionalidade expressa no poema seria reflexo de seu surgimento na tradição jônica, dentro da qual, pouco mais tarde, floresceriam os primeiros filósofos físicos.

Não se pode atribuir a autoria de ambos os poemas a um único indivíduo, nem situá-los em um único período. Porém, considerar a totalidade das obras como uma unidade é importante quando se trata de analisar a significação de seu legado sobre a formação cultural helênica, como veremos a seguir.


3.0 – Impacto da epopéia homérica sobre a civilização grega


3.1 – Aspecto educacional de Homero

As narrativas homéricas desempenharam papel importante em relação ao desenvolvimento cultural dos gregos, uma vez que a poesia era considerada veículo educador por excelência, não havendo dissociação entre o valor estético da arte e o seu conteúdo ético. Ambos encontravam-se intimamente ligados, tendo importância profunda para o valor da obra. A idéia de autonomia estética da arte, que permite a apreciação dos poemas pela beleza de sua forma, dispensando-se reflexões sobre seu conteúdo, teria sido uma concepção da retórica e, posteriormente, do pensamento cristão, que assim teria permitido a sobrevivência dos poemas, agora convertidos em manifestação da “mitologia”. Ou seja, poderiam ser admirados simplesmente por sua beleza, desconsiderando-se a profundidade da mensagem enquanto expressão de religião pagã. Pretendo, daqui em diante, apresentar esse conteúdo de que as epopéias homéricas seriam portadoras.

Os gregos buscaram encontrar, em tudo quanto fosse objeto de sua reflexão, as leis gerais que regem os diversos fenômenos. Isso não poderia deixar de ocorrer também em relação à idéia de homem elaborada por eles. Pensar o ser humano conduziu o grego à concepção de indivíduo, em contraposição ao cenário geral da antigüidade oriental, na qual os homens representam uma massa rígida, curvada perante um Estado onipotente. Essa constatação é crucial para o entendimento da evolução que a Grécia representou em áreas tais como a Política, com o advento da idéia de democracia; e a Filosofia, em seu desenvolvimento desde os problemas da natureza até os problemas do ser humano. A noção de indivíduo, elaborada nesses moldes, não significou a consideração de um “eu” subjetivo, e sim a construção de um tipo ideal de ser humano.

Homero é quem vai estabelecer as qualidades desse homem idealizado, sendo a característica central dessa construção a areté, tal como a apresentamos em 2.0. A areté não é um conceito que se encerra em si mesmo. A conseqüência de seu reconhecimento é que assume valor importantíssimo, pois significa a atribuição de honra ao indivíduo virtuoso ou, no dizer de Aristóteles, a honra é o prêmio pago à virtude. Ao contrário da formulação posterior da idéia de virtude, que geralmente prescinde do reconhecimento externo, a honra em Homero é a retribuição natural à conduta virtuosa, de modo que não honrar o guerreiro virtuoso significa não reconhecer nele a areté. No cenário da guerra, a honraria se dá pela oferta do espólio da batalha ao herói. Somente assim podemos compreender o fato de Aquiles retirar-se da batalha após ter Criseida, que lhe fora dada pelos gregos como prêmio por suas qualidades de guerreiro, tomada por Agamemnon. A consideração conjunta do significado da areté e a clara reprovação do poeta à atitude de Agamemnon ajudam a perceber na reação de Aquiles o repúdio à injustiça sofrida, em vez de um mero exemplo de egoísmo ou narcisismo.

No contexto da Grécia arcaica, a nobreza, apoiada no tripé tradição / vida sedentária / propriedade, é a única classe onde é possível se conceber uma transmissão consciente das formas de vida, com o fim de propiciar a suas gerações atingir o ideal de homem apresentado. Deve-se a isso a posição central dos nobres na ação, bem como a ligação indissociável entre areté e nobreza. Também é notável o papel diferenciado da mulher, que não é vista pelo aspecto da utilidade, como fará Hesíodo, nem como mera mãe dos filhos legítimos, como será no seio da burguesia posterior. A importância feminina está, mais explicitamente na Odisséia, em seu papel de mãe de uma geração ilustre, tanto pela consciência da relação entre areté e nobreza (esta, como já vimos, só se justifica pela constante demonstração daquela), quanto por ser a mulher a responsável por desempenhar, em razão do cenário doméstico, a manutenção das tradições e do modo de ser da classe. Seus protótipos são Penélope, Nausícaa e Atena.

Até agora tenho afirmado ser a poesia forma usada eficazmente pelos gregos com a intenção educadora. A eleição da arte como veículo de expressão de valores éticos se deve ao fato de ela possuir um poder ilimitado de conversão espiritual – psicagogia – , estando dotada simultaneamente de duas modalidades de ação espiritual: validade universal e plenitude imediata e viva. Assim, supera em amplitude a vida real e a reflexão filosófica, pois esta é universal por penetrar na essência das coisas, mas seu alcance é restringido pelos diversos níveis de vivência pessoal; enquanto aquela possui a plenitude da experiência, desprovida, porém, de sentido universal. Tais características não são exclusivas dos gregos, nem aplicáveis à arte de todos os tempos e culturas. Mas é entre os helenos que essa observação atinge maior validade.

Além do alcance universal da arte, a epopéia homérica se vale, em sua ação educadora, da força do exemplo. O exemplo é o recurso dos mais antigos e eficazes para se transmitir alguma lição. O discurso de Fênix a Aquiles, acerca da nocividade da cólera, menciona o exemplo de Meléagro. Na Odisséia, Atena inspira Telêmaco com a alusão à vingança de Orestes contra Egisto, assassino de seu pai.

Em última análise, Ilíada e Odisséia apresentam, nas figuras de Aquiles e Telêmaco, dois protótipos antitéticos da educação. Aquiles entrega-se à paixão da fúria, apesar dos sábios conselhos de Fênix, amigo fiel e experiente, no sentido de não resistir de forma tão impetuosa à reaproximação com os aqueus. Por sua vez, Telêmaco representa uma demonstração de como um jovem, guiado para um fim maior, pode atingir sua meta através de uma postura que aceita com docilidade os ensinamentos da experiência.


3.2 – Religião e filosofia

Já tive a oportunidade de opor a noção de homem dos gregos àquela dos povos da dita antigüidade oriental. Retorno a ela agora, a fim de mostrar o abismo que separa as duas culturas, sob o aspecto religioso. Em oposição ao já decantado antropocentrismo grego, há, entre os orientais, a ordenação teomórfica do mundo. Em ambos os sistemas, há a intervenção divina nos eventos terrenos. Porém, a idéia da individualidade do homem aduz, entre os gregos, à necessidade de decompor a observação da realidade segundo os desígnios divinos e o efeito destes sobre os homens. É uma postura na qual a consideração psicológica e a metafísica são organicamente complementares, nunca excludentes. Deste ponto de vista, as epopéias homéricas se distinguem não apenas de seus similares orientais, mas também da epopéia medieval, em que impera a ótica estritamente subjetiva.

Isto merece uma reflexão profunda, a fim de que se possa perceber que a concepção poética de Homero leva necessariamente a uma análise holística do mundo, ou seja, a coexistência de um plano divino e um humano implica a consideração dos acontecimentos de uma perspectiva absoluta, sempre. Apenas o poeta, condutor da narrativa, percebe e transmite a natureza dúplice da ação. Ao tratar do problema do homem em sua significação absoluta e em conexão com as normas que governam o próprio universo, a épica grega assume um caráter muito mais total, objetivo e profundo, que só se repetirá, segundo Jaeger, em Dante Alighieri. Desnecessário ressaltar a importância de semelhante visão de conjunto, não apenas para a religião, mas para a própria evolução do pensamento.

O Olimpo de Homero é um reino de luz. Humanizados em forma e atitude, os deuses ficam mais próximos do homem, racionalizando a religião e excluindo do culto as formas monstruosas e as práticas de feitiçaria, que passam a aparecer na tradição apenas como exemplo de desvio patológico daquela que deveria ser a verdadeira expressão da religiosidade[7]. Se uma pluralidade de divindades dispostas a fazer prevalecer sua vontade no universo poderia significar uma desordem, a presença de um Zeus soberano, detentor da palavra final no conselho dos deuses, garante a manutenção da ordem cósmica. Isto é muito relevante para nós. Atribuir a causa das coisas, em última instância, a Zeus foi a forma encontrada pelo poeta para resolver a delicada exigência moral e religiosa de conciliar a multiplicidade de deuses com a concepção de um comando ordenado e unitário do mundo. Isto vai dar, em seguida, na noção de arché dos pré-socráticos, como ordem em que se funda todas as coisas, aqui representada pelo papel de Zeus.

4.0 – Bibliografia


ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Edipro. [s.d.]

BUTLER, Samuel (adap.). The Iliad of Homer and The Odyssey. Great books of the western world. Encyclopaedia Britannica. 1952.

CERAM, C.W. Deuses, Túmulos e Sábios: o romance da arqueologia. São Paulo. Melhoramentos. 1991.

JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo. Martins Fontes. 1995.

PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Estudos de História da Cultura Clássica I: Grécia. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian. 2003.

PLATÃO. Fedro, in Plato. Great books of the western world. Encyclopaedia Britannica. 1952.

SOUZA, José Cavalcante de (org.). Os pré-socráticos: vida e obra. Os Pensadores. São Paulo. Nova Cultural. 1999
Notas:

[1] A respeito, leia-se a nota bibliográfica sobre Homero, constante da tradução das epopéias por Samuel Butler: “Homer is not a man known to have existed, to whom the authorship of the Iliad and Odyssey is imputed. Homer is the author of the Homeric poems, a hypothesis constructed to account for their existence and quality. There were several ‘lives of Homer’ in antiquity. Their date is uncertain, but the Homer they present is certainly a figure of romance and conjecture. (...) Extrinsic evidence, then, does not reveal an Iliad or Odyssey, written poems, in anything like their present form, before 550 B.C. However, intrinsic evidence convinces scholars that such a date was a late stage in the history of ‘Homeric’ poetry. To reconstruct that history has always been the Homeric problem. This reconstruction, when made by argument from the text of the present poems, has sometimes seemed to involve a denial of their artistic unity. Certain scholars have seen the epics as only imperfectly unified, resulting from accretion to an imagined short original or from a joining of several remembered songs. Further, the poems have been held to be neither of the same period, nor by the same author; Samuel Butler contended on this last point that the Odyssey was written by a woman.”

[2] A narrativa inteira, aliás, está concentrada nas aristéias dos diversos heróis aqueus e troianos, já que estas oferecem elementos mais ricos e dignos da nobreza do que os grandes combates de multidões, os quais só fazem sentido neste contexto com a atuação notável dos heróis no meio das massas.

[3] É o caso da referência feita à motivação da guerra (o rapto de Helena) e do célebre episódio do cavalo de Tróia, que não se encontra na Ilíada, mas no canto VIII da Odisséia, cantado por um bardo, em forma de flashback. Também a referência prévia à morte de Aquiles em combate. O fato de o herói permanecer no campo de batalha, mesmo tendo consciência de que nele encontrará o seu fim, evidencia um aspecto importante da areté.
[4] Quanto à adjetivação, cabe lembrar o largo uso, na Ilíada, de epítetos junto aos nomes dos heróis, destacando suas qualidades guerreiras, físicas e nobres, enquanto que seu uso na Odisséia serve à tradução do que se passa na psique. Um exemplo fortíssimo é a caracterização da mulher. Os comentadores antigos apontam a avaliação da cativa Criseida por Agamemnon como resumidora de todo o conteúdo da areté feminina (boa presença, estatura, prudência e linhagem), enquanto a Odisséia realça o temperamento e virtudes domésticas de Penélope.

[5] Quero fazer uma observação, no sentido de que não pretendo afirmar a ausência de análise psicológica na Ilíada, apenas que, na Odisséia, ela é mais elaborada. Tal ressalva é necessária no sentido de evitar a impressão de contradição em relação às partes finais do presente texto.

[6] A respeito de Schliemann, v. C.W. Ceram, Deuses, Túmulos e Sábios.
[7] Lembro-me de ter usado o mito de Medéia como exemplo dessa tendência, ao que se opôs ser esse exemplo muito discutível. Sinceramente, faltam-me informações a respeito.

Nenhum comentário: