sábado, 24 de maio de 2008

Sobre porretes, revoluções e joysticks

Hoje eu fui assistir ao novo filme do Indiana Jones. Não vou fazer resenha, quem quiser que assista e tire suas próprias conclusões sem influências prévias, mesmo porque eu não sou nenhum grande entendido em sétima arte para me meter a fazer crítica.

O que eu posso dizer sem contar muito do filme e, portanto, sem estragar a diversão de quem ainda pretende vê-lo, é que lá exploram a temática do conhecimento tecnológico de povos antigos. Tecnológico aqui entendido como tecnologia "moderna", porque a partir do momento em que o macaco pegou o bastão para bater no rival (aqui remeto a 2001 do Kubrick, com a abertura de Assim falou Zaratustra, do Richard Strauss, tocando ao fundo), já tínhamos aí um artefato tecnológico, quando o australopiteco descobriu as relações de causalidade e as aplicou mediante um ato de violência contra a natureza - ao utilizar-se de um instrumento, conceber uma ferramenta - para obter do meio o que ele necessitava (no caso do filme - 2001, não Indiana... - era violência mesmo, já que o símio usou essa lógica para descer o cacete no outro macaco) .

Enfim. Duas coisas me ocorreram durante a projeção. Duas coisas igualmente espantosas.

A primeira diz respeito justamente às surpresas que pode nos causar a mensuração do nível tecnológico dos antigos. É. Eu fui daqueles que leu muito os livros de Erich v. Däniken... cheguei até a escrever para ele uma vez - num inglês sofrível de Ginásio, é verdade - , porque ele coordena uma associação que se propõe provar as teorias dele a respeito dos avanços tecnológicos dos "primitivos" e uma provável influência extraterrestre por trás disso (idéia que eu não acho que esteja tão bem fundamentada hoje, mas também não acho nenhum absurdo). Como resposta da cartinha recebi um monte de informações sobre a tal associação, que eu tenho até hoje, embora na ocasião eu não tenha dado continuidade à empreitada.

Eram os deuses astronautas e Os olhos da Esfinge embalavam minha imaginação de aspirante a arqueólogo e eram praticamente leituras de cabeceira. Agora mesmo, tenho em mãos um exemplar da 50ª edição de Eram os deuses... (50ª! um best seller mesmo).

Voltando ao ponto: nessas obras, v. Däniken aponta uma série de artefatos e conhecimentos de povos bastante recuados no tempo que demonstrariam o domínio de técnicas que só viriam a ser "redescobertas" até dezenas de séculos mais tarde. Desde os relatos religiosos, que falavam em deuses voando em carros de fogo (os textos sagrados hindus), bombas atômicas (Sodoma e Gomorra, há quem diga) e teoria da relatividade (o profeta Elias, que ao cabo de algumas horas de ascensão à presença divina teria percebido que, na verdade, lá passou vários anos) até evidências mais palpáveis e nem por isso menos intrigantes, tais como o conjunto de vaso e haste de argila revestida de cobre encontrado no Iraque que, posto em movimento, produz eletricidade suficiente para acender uma lâmpada; a arquitetura das pirâmides ou de certas construções pré-colombianas que parecem soldadas... parodiando Shakespeare, não só entre o céu e a terra há muito mais do que se supõe, mas também entre o passado e o presente.

E o segundo ponto que me pegou diz respeito ao presente mesmo. Agora mesmo estamos passando por uma revolução tecnológica do caramba e, ao contrário do que parece ter ocorrido em todas as outras ocasiões da História em que isso aconteceu (Revolução Agrícola, Urbana, Industrial...) a gente não se dá muita conta disso, e age com a maior naturalidade. Os recursos utilizados para rodar um filme desse naipe, por si só, nos dá notícia de como as coisas têm evoluído rápido. O ritmo é estonteante e ao mesmo tempo natural. Enquanto foi necessário esperar umas três gerações para nos acostumarmos com a passagem do cinema mudo ao technicolor, a minha geração viu o Atari (ou algum similar nacional, como o dismac) e o Wii. E um simples jogo de tênis em um e outro definitivamente não é a mesma coisa.

Não sem certa nostalgia, percebi que o Indy de hoje, do nosso cinema cheio de truques de encher os olhos, também não é como o de ontem.

(Droga! Eu tinha dito que não ia opinar sobre o filme...)

sábado, 3 de maio de 2008

intrigado

Hoje eu gostaria de postar algo bem sucinto, que eu teria acrescentado em algum post anterior, caso não houvesse esquecido de fazê-lo. Diz respeito a uma entrevista que me chamou a atenção.

Diante do conteúdo de muitos dos meus textos, com certeza alguém deve pensar que eu sou meio obcecado com a temática da morte, o que não é verdade. O que me intriga é a reação das pessoas frente a essa questão que, assim como algumas outras grandes questões da vida (das quais eu também tento tratar aqui), revelam muito daquilo que o ser humano prefere silenciar, quando não acabam servindo mesmo de motor para as coisas que o homem faz.

Enfim. Faz já algum tempo. Eu estava assistindo ao Globo Esporte. Devia estar muito entediado para assistir aquilo, porque eu tenho uma birra com programas esportivos em geral, pois eles socam futebol e Fórmula 1 o ano inteiro e, com algumas exceções, só se lembram de esportes "menores" (e não tão bem patrocinados, diga-se) quando o Brasil tá em final olímpica ou algo do tipo (alguém aí ouviu falar em Tae Kwon Do depois do Pan?).

Certo. Como eu dizia, estava assistindo ao Globo Esporte. Eis que passou uma entrevista com uma nadadora cujo nome infelizmente não retive, e que sofria algum tipo de doença degenerativa que, até onde pude entender, invariavelmente a levaria a um estado vegetativo e daí à morte. No entanto, ela continuava nadando, a despeito das dificuldades cada vez maiores, o que é, sem a menor dúvida, louvável e até mesmo exemplar.

Qualifico assim a atitude dela porque acho que a gente reclama muito da vida. Vivo dizendo às pessoas que temos que ser mais otimistas, que por mais que elas não queiram ver, nossas vidas são iluminadas e que o problema muitas vezes é conseqüência de nossas bobagens mesmo. Mas o ponto não é esse.

O que me chamou a atenção, de verdade, foi uma frase que ela disse e que passou despercebida na matéria... ou pelo menos foi extremamente sutil. Ela disse algo do tipo:

"... é muito duro estar aqui sem nem ao menos saber quando morrerei"

Na ocasião eu fiquei realmente espantado com essa frase. Talvez até de forma desproporcional, dado o contexto em que ela foi proferida. Só o que me ocorreu foi:


"e alguém sabe?".