sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Tá bom, vamos falar de Budismo!


Foi o que eu exclamei quando me lembrei deste blog, que por sinal estava às moscas, no meio de uma discussão sobre o tema. Como ainda há muuuuito o que se estudar a respeito, vou voltar várias vezes a isso. Não deixa de ser um estudo de uma filosofia do mais alto refinamento, que é, aliás, um dos objetivos dessa página - discutir filosofia!

Pois bem, quem foi Siddatha Gotama, o Buda por excelência, e o que ele tem a nos dizer? Vamos fazer uma pequena viagem pelos textos do cânone para ter uma idéia...

Gotama nasceu como príncipe de um clã guerreiro do norte da Índia, os Shakyas. Viveu cercado de luxo durante toda a juventude, a tal ponto que, por volta dos 20 anos, nem se dera conta de que as pessoas sofrem, envelhecem e morrem... pasmem!

Certa vez, durante um passeio para além dos limites do palácio, viu um velho doente...depois, um cortejo fúnebre...aí ele começou a sacar que as coisas boas não duram para sempre...

aliás, nada dura para sempre....

Retornando ao seu harém, abriu a porta e teve uma epifania...viu nas belas mulheres que lá estavam um monte de velhas decrépitas e moribundas XD ...estava caindo na real, como se diz.

Brincadeiras à parte, fato é que ele ficou realmente perturbado com as coisas...ficou inquieto, quis partir em busca de um sentido (esse mesmo impulso me moveu por um mar de idéias ao longo do último ano até chegar no Budismo), e foi isso mesmo que ele fez. Abandonou o palácio, a esposa Yasodara e o filho recém-nascido, Rahula.

"Antes do meu Despertar quando eu ainda era um Bodisatva não iluminado, eu pensei: 'A vida em família é confinada, um caminho empoeirado. A vida santa é como o ar livre. Não é fácil viver em casa e praticar a vida santa completamente perfeita, totalmente pura, como uma concha polida. E se eu raspasse o meu cabelo e barba, vestisse os mantos de cor ocre e seguisse a vida santa?' "

No começo, ele se uniu às tradições ascetas da Índia...com um grupo desses ascetas viveu algum tempo, mortificando-se ao extremo, em busca de alguma purificação...coisas do tipo comer apenas um grão de arroz por dia, até chegar ao ponto de tocar o ventre e sentir a coluna...

"Eu pensei: 'Todos os contemplativos ou brâmanes que no passado experimentaram sensações dolorosas, torturantes e penetrantes devido ao esforço, isto é o máximo, não existe nada além disso. Todos os contemplativos ou brâmanes que no futuro experimentarão sensações dolorosas, torturantes e penetrantes devido ao esforço, isto é o máximo, não existe nada além disso. E todos os contemplativos ou brâmanes que no presente experimentam sensações dolorosas, torturantes e penetrantes devido ao esforço, isto é o máximo, não existe nada além disso. Mas, através desta prática de austeridades atormentadoras eu não alcancei nenhum estado supra-humano, nenhuma distinção em conhecimento e visão digna dos nobres. Poderia haver um outro caminho para a iluminação?"

também viu que não era por aí....

"Agora, tendo comido comida sólida e recuperado as minhas forças, afastado dos prazeres sensuais, afastado das qualidades não hábeis eu entrei e permaneci no primeiro jhana, que é caracterizado pelo pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos do afastamento. Mas essa sensação prazerosa que surgiu em mim não invadiu a minha mente e permaneceu."

Com isso, ele descobriu o caminho do meio:

“ Bhikkhus, há esses dois extremos aos quais aquele que abandonou a vida em família e seguiu a vida santa não deve se entregar. Quais dois? A busca da felicidade nos prazeres sensuais, que são baixos, vulgares, grosseiros, ignóbeis e que não trazem benefício; e a busca da mortificação, que é dolorosa, ignóbil e que não traz benefício. Evitando esses dois extremos o Tathagata despertou para o Caminho do Meio, que faz surgir a visão, que faz surgir a sabedoria, que conduz à paz, ao conhecimento direto, à iluminação, a Nibbana.

“ E qual, bhikkhus, é o caminho do meio para o qual o Tathagata despertou, que faz surgir a visão ... que conduz a Nibbana? É este Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta. Esse, bhikkhus, é o caminho do meio para o qual o Tathagata despertou, que faz surgir a visão, que faz surgir a sabedoria, que conduz à paz, ao conhecimento direto, à iluminação, a Nibbana."

e as quatro nobres verdades:

“Agora, bhikkhus, esta é a nobre verdade do sofrimento: nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimento; a união com aquilo que é desprazeroso é sofrimento; a separação daquilo que é prazeroso é sofrimento; não obter o que queremos é sofrimento; em resumo, os cinco agregados influenciados pelo apego são sofrimento.

“Agora, bhikkhus, esta é a nobre verdade da origem do sofrimento: é este desejo que conduz a uma renovada existência, acompanhado pela cobiça e pelo prazer, buscando o prazer aqui e ali; isto é, o desejo pelos prazeres sensuais, o desejo por ser/existir, o desejo por não ser/existir.

“Agora, bhikkhus, esta é a nobre verdade da cessação do sofrimento: é o desaparecimento e cessação sem deixar vestígios daquele mesmo desejo, abrir mão, descartar, libertar-se, despegar desse mesmo desejo.

“Agora, bhikkhus, esta é a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento: é este Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta."


continua...


Notas ao rodapé:
1-
Já deu pra perceber que é difícil tratar desse tema no mesmo estilo mais formal que eu gosto...é algo ao mesmo tempo muito e pouco racional...complicado de definir mesmo...

2- Imagem: http://cadernos-da-belgica.blogspot.com/2007/06/buda-detalhe.html