quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Ziggurath





A narrativa está em Gênesis, 11. Diante da audácia humana, que pretendeu alcançar os céus por meio de uma torre, Elohim não só pôs abaixo a construção como confundiu as línguas dos habitantes da cidade - Babilônia -, a fim de que eles não conseguissem mais se entender e unir esforços para desafiá-Lo.

A torre de Babel é uma fábula. Alguém poderia dizer que é muito simples interpretar essa estória, já que Babilônia era uma metrópole e, como as metrópoles de hoje, reunia pessoas das mais diversas origens, falantes de idiomas diversos. Bastou isso para que o escriba bíblico condenasse, de forma poética, os zigurates construídos em honra dos deuses dos ímpios.

Etimologicamente, Babel vem de Bab'ilu - "o portal do deus". A transliteração hebraica resultou em Bavél, que por sua vez é uma paranomásia (espécie de trocadilho), envolvendo a raiz hebraica para o verbo "confundir".

Mas eu diria que D's foi demasiado cauteloso, pois não carecia confundir as línguas para que os homens não se entendessem. A incompreensão é algo que está conosco desde sempre.

O que me motiva a dizer isso é constatar que pouco importa o que façamos, o mundo vai continuar a mesma porcaria. As pessoas continuam pensando apenas em si. Agem como se suas ações só dissessem respeito a si mesmas e simplesmente desconsideram o outro (sem imaginar que um dia ele pode se mostrar o Outro - aquele que se voltará contra elas).

É como disse uma amiga minha, com quem conversava sobre minhas angústias: "As pessoas esperam tolerância e compreensão das outras, mas elas mesmas não são tolerantes nem compreensivas".

Talvez eu esteja levando a sério demais algo que eu mesmo considero imutável. O fato de estar incrédulo em relação à maior parte das pessoas me fez perder a paciência com gente. Isso me fez ser ríspido, impaciente e amargo com as pessoas. Não todas as pessoas. Mas, ainda assim, a maioria.

E tudo que eu quero é reerguer a minha torre. Mas apertar a tecla SAP também serve.

Notas ao rodapé: 1- Imagem n°1: Gustave Doré- "Confusão das Línguas"
Imagem n°2: The Brick Testament http://www.thebricktestament.com/

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto fantástico,Leo.
Subscrevo-me às suas palavras...
É mais uma demonstração da punição da hybris...
As pessoas substimam o espírito dionisíaco e acham que é só o gozo, a alegria e a liberdade...
Eis que vem o Outro e nada resiste.
Infeliz ou felizmente, nunca se há de saber.
Já viu a tela "Torre de Babel" do Pieter Bruegel?Aliás, a obra dele como um todo. Totalmente excelente.
Abraço!

Nefelibata disse...

Entendo que o lado negro da força é sedutor, mas acho que talvez o senhor precise presenciar uma metamorfose, hehehe... ao ver em mim que é possível haver "mudança", eu passei a desconfiar de tudo o que é imutável.

Mas o texto possui um turning point fantástico! Parabéns!

Abração!