sábado, 21 de junho de 2008

inconstante cosmológica

(divagando um pouco sobre uma leitura de jornal)


No consultório:

- Doutor, ele não come, não faz mais o dever de casa...
- Alvy, o que está acontecendo?
- O universo está se expandindo...
- Mas o que você tem a ver com isso, meu filho?!
- Se o universo está se expandindo, então tudo vai acabar...
- Mas o Brooklin não está se expandindo!
- Ora, Alvy, isso ainda vai demorar BILHÕES de anos! Então vamos simplesmente aproveitar enquanto estamos aqui, sim?

Alvy Singer, personagem de Woody Allen em Annie Hall, comicamente perdia o sono de sua infância graças ao problema da expansão do universo. Mal sabia o moleque que isso anda fazendo muita gente grande perder o sono desde que Edwin Hubble comprovou que o universo está se expandindo, em 1924.

Faz precisamente dez anos que se repropôs o problema da energia escura, que atua como um repelente no cosmo. Tudo começou quando as medições do movimento das galáxias pelo Hubble (agora é o telescópio, não o astrônomo) revelaram que estas têm se afastado num movimento acelerado. Isso é bizarro porque, considerando-se o sistema total do universo, a taxa de aceleração com que se movem as galáxias contraria a atuação da gravidade, que, segundo se acreditava, atuaria freando a expansão do cosmo.

Na busca de uma razão teórica para esse paradoxo (já que ausente qualquer perspectiva de verificação empírica), chegou-se a Einstein (sempre ele). Curiosamente, Einstein acreditava, assim como Galileu e muitos antes dele, que o universo era imóvel, muito embora não ignorasse as dificuldades oferecidas pela influência da gravidade entre os corpos. Assim, formulou a idéia de uma constante cosmológica, que atuaria justamente em contraposição à ação gravitacional.

Posteriormente, o físico alemão acabou silenciando sobre essa questão, enquanto prevalecia a idéia de que o universo estava sim em expansão, sob a influência unicamente da ação gravitacional, que levaria enfim ao movimento de contração total do universo - o big crunch - e, daí, o recomeço do ciclo. Idéia velha, na verdade. Basta lembrar Hesíodo e a relação entre o Cosmo e o Casma, parcela do Caos que permaneceria em torno do universo, finalmente o engolindo para, daí, reiniciar a ciranda cósmica.

Pois bem, a idéia de Einstein foi ressuscitada. Essa energia escura, que repele as grandes estruturas do universo, seria a constante cosmológica por ele imaginada.

Alguns problemas ainda estão em aberto. Por que essa energia escura não se manifesta em porções pequenas da matéria bariônica, como um corpo que cai aqui na Terra? Se ela se manifesta como mais uma força da natureza - em oposição à gravidade - porque é percebida como uma constante, e não de modo a variar segundo as condições de espaço e tempo?

É Alvy, melhor tratar de dormir mesmo.

2 comentários:

Ivan Yukio disse...

É, matéria negra surge como uma correção das teorias já que não faria sentido um corpo que explode ter suas partes se distanciando do centro original cada vez mais rápido.
Uma coisa legal que acontece com essa aceleração diferenciada em pontos diversos do Universo é a Colisão de Galáxias. É muito bonito e incrivelmente devastador para as duas galáxias.

Existem outras teorias para o fenômeno também, como existência de forças fora do universo, puxando seus extremos. Ou que o universo tem na realidade menos dimensões, que vivemos em uma dimensão verdadeiramente 2d, experimentando uma ilusão de holograma e, tendo ele 1 dimensão a menos, estaríamos calculando a aceleração do Universo erroneamente

Nefelibata disse...

Você falou de Hesíodo e eu lembrei do Anaximandro.

Sobre o determinado e o indeterminado.

E o que vai e o que volta.

Interessante...